“Morrem cedo aqueles que os Deuses Amam”. Assim se referia Fernando Pessoa a Mário de Sá Carneiro, por ocasião da sua morte. Uma frase, um pensamento que ajusta na perfeição ao meu querido amigo e colega Fernando Aníbal Peixoto.
Nascido a 25 de Julho de 1947, na freguesia de Santa Marinha, na passada Sexta-feira, dia 3 de Outubro de 2008, deixou-se abraçar pelo eterno abraço das densas brumas que arrefecem os dias e abrem as espessas cortinas dos bastidores deste ilusório palco da vida.
Historiador, Investigador, professor, escritor, encenador, actor, político, aqueles que com ele privamos sempre o vimos como o Poeta, o Poeta do Amor. Na sua poesia manter-se-ão vivas a sua extrema sensibilidade, a sua capacidade de luta, o seu amor às artes teatrais, o inefável carinho pela esposa, pela filha e pelas netas, que preenchiam os seus dias e as suas conversas, junto dos amigos.
Vila Nova de Gaia e o Teatro perderam um Homem de cultura, um verdadeiro fazedor de laços, generoso, compreensivo, disponível, lutador, profundamente humano, um sonhador de um mundo novo.
A sua tese de doutoramento, a aguardar defesa, será apresentada perante o Juiz supremo, que lhe dará, estou certo, a nota máxima, pela sua entrega à vida, pelos dias e noites de entrega generosa às colectividades por onde passou, aos seus alunos, à história do teatro europeu e nacional, à família, aos muitos amigos que dele guardam já a saudade de quem É e Será Sempre, enquanto for memória.
Os amigos poderão continuar a visitá-lo em www.todomundoeumpalco.blogspot.com/ e em http://arcadeternura.blogspot.com/, espaços onde verteu muitas das suas reflexões, das suas paixões, da sua vida. Ficarão connosco, como um precioso tesouro que, a qualquer hora, nos trarão de volta aquela voz inconfundível, o aconchego da presença vertical de um amigo, de um verdadeiro “ensinador” da arte de viver.
Em “Eu Quero Ser D. Quixote”, poema escrito em no último dia do ano 2007, versejava assim Fernando Peixoto:
Vou desfiando o rosário
dos anos que vão passando.
Viro a folha ao calendário:
doze meses me esperando
acalentam novos sonhos
com dias bem mais risonhos
que os que se foram gastando
na escalada da Vida
em que sempre fui teimando.
(…)
Rocinante há-de ensinar-me
nessa doce pacatez
a caminhar devagar:
– cada passo em sua vez.
E nessa sabedoria
que só a idade acrescenta
descobriremos a via
de que a Vida se alimenta.
Fernando, obrigado pelo que és em cada um dos teus amigos e amigas. Aqueles e aquelas que te conhecemos e amamos, já guardam de ti a mais profunda saudade. Ficarás em nós como uma estrela polar que guiará os nossos passos neste que é, apenas, mais um dia do resto da nossa vida.
Adeus, querido amigo, até um dia destes.
Saudosamente,
José Manuel Couto